Um conto

ERREI TODO O DISCURSO DE MEUS ANOS

No outro dia expliquei a uma audiência, já não me lembro do que estávamos a falar, salvo erro física quântica:
"A minha história de amor é a mais bonita do mundo."
O auditório, jovens imbecis (peço desculpa pela redundância: jovens), ficou engasgado. Sorrisinhos irónicos: "Lá tá este gajo..."
Tivessem vocabulário e talvez completassem a frase: "...com a mania das grandezas!"

Percebendo que não perceberam, acrescentei:
"Sim, mesmo mais que a Branca de Neve com o Príncipe Encantado, Romeu e Julieta, Angelina e Brad. A minha é a mais bonita história de amor da todas."
Sim, eu disse da – "da todas". Quando me enervo dou calinadas. À azar?!
E eles: "Parvo do caralho. Não fôssemos nós ter ca ter nota a física quântica e já távamos de frosques."

Por fim, lá fui caridoso:
"Não estou a falar de mim, queridos concidadãos. Estou a dizer minha no sentido universal do termo. Eu. Eu um qualquer eu. Quem não achar que a sua história de amor (a "minha" história de amor) é a mais linda de todas está oficiosamente morto. Até porque a Branca de Neve é um conto de fadas, o Romeu e a Julieta personagens de ficção e o pobre Brad e a anoréctica Angelina infelizes como um pastel de Tentúgal besuntado com molho bechamel."
Bolas, hoje em dia nem com um tuk-tuk nos cornos sabe esta malta ser feliz...
E não, não sou eu que estou a ficar velho. São estes cabrões que estão a ficar novos demais.

[Errata: na feitura deste conto nenhum gato de Schrödinger​ foi maltratado.]

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